Equação de Langevin

Em física estatística, uma equação de Langevin é uma equação diferencial estocástica que descreve o movimento de uma variável aleatória (e.g., a posição de uma partícula suspensa num liquido) quando sujeita a um potencial; geralmente, é este potencial que impõe a natureza aleatória ao sistema. Este potencial, normalmente, pode ser decomposto em duas componentes: um potencial estático (e.g., campo elétrico) e um potencial aleatório. Um exemplo típico do uso destas equações é o movimento browniano onde a variável aleatória é a posição de uma partícula embutida num banho térmico e o potencial é o efeito da temperatura do banho, ou seja, o efeito das colisões entre a partícula e as moléculas do banho térmico.

Exemplos de equações de Langevin

Movimento browniano

A equação de Langevin original, desenvolvida por Paul Langevin,[1] foi utilizada para descrever o movimento browniano. Neste processo, o movimento de uma partícula browniana de massa m {\displaystyle m} e posição x ( t ) {\displaystyle {\boldsymbol {x}}(t)} é apenas uma consequência das colisões entre a partícula e as moléculas do meio envolvente. Estas colisões levam a dois efeitos. O primeiro, macroscópico, é conhecido como atrito viscoso e pode ser expresso como uma força γ v ( t ) {\displaystyle -\gamma {\boldsymbol {v}}(t)} onde γ {\displaystyle \gamma } é o coeficiente de amortecimento (próprio do meio envolvente) e v ( t ) = x ˙ ( t ) {\displaystyle {\boldsymbol {v}}(t)={\dot {\boldsymbol {x}}}(t)} é a velocidade da partícula. O segundo efeito, estocástico, é uma força (ou ruído) η ( t ) {\displaystyle {\boldsymbol {\eta }}(t)} que se assume ser Gaussiana de media nula η ( t ) = 0 {\displaystyle \left\langle {\boldsymbol {\eta }}(t)\right\rangle ={\boldsymbol {0}}} , graças à lei dos grandes números, e função de correlação η i ( t ) η j ( t ) = 2 d γ m k B T δ i j δ ( | t t | ) {\displaystyle \left\langle \eta _{i}(t)\eta _{j}(t')\right\rangle =2d\gamma mk_{B}T\delta _{ij}\delta (\left\vert t-t'\right\vert )} para todas as direções i , j {\displaystyle i,j} do espaço de d {\displaystyle d} dimensões onde k B {\displaystyle k_{\text{B}}} é a constante de Boltzmann e T {\displaystyle T} é a temperatura do meio envolvente.

Aplicando a segunda lei de Newton obtemos:

m a ( t ) = γ v ( t ) + η ( t ) , {\displaystyle m{\boldsymbol {a}}(t)=-\gamma \mathbf {v} (t)+{\boldsymbol {\eta }}(t),}

onde a ( t ) = x ¨ ( t ) {\displaystyle {\boldsymbol {a}}(t)={\ddot {\boldsymbol {x}}}(t)} é a aceleração da partícula.

Esta equação de Langevin pode ser integrada (por via de uma transformada de Laplace por exemplo):

m v ( t ) = m v 0 e γ t + 0 t d τ   e γ τ η ( t τ ) {\displaystyle m{\boldsymbol {v}}(t)=m{\boldsymbol {v}}_{0}e^{-\gamma t}+\int _{0}^{t}d\tau \ e^{-\gamma \tau }{\boldsymbol {\eta }}(t-\tau )} ,

Daqui podemos tirar varias conclusões, como por exemplo:

  • v ( t ) = v 0 e γ t + 1 m 0 t d τ   e γ ( t τ ) η ( τ ) = v 0 e γ t {\displaystyle \left\langle {\boldsymbol {v}}(t)\right\rangle ={\boldsymbol {v}}_{0}e^{-\gamma t}+{\frac {1}{m}}\int _{0}^{t}d\tau \ e^{-\gamma (t-\tau )}\left\langle {\boldsymbol {\eta }}(\tau )\right\rangle ={\boldsymbol {v}}_{0}e^{-\gamma t}} ;
  • v 2 ( t ) = v 0 2 e 2 γ t + 1 m 2 0 t d τ 0 t d τ   e 2 γ τ η ( t τ ) η ( t τ ) = ( v 0 2 d k B T m ) e 2 γ t + d k B T m {\displaystyle \left\langle {\boldsymbol {v}}^{2}(t)\right\rangle ={\boldsymbol {v}}_{0}^{2}e^{-2\gamma t}+{\frac {1}{m^{2}}}\int _{0}^{t}d\tau \int _{0}^{t}d\tau '\ e^{-2\gamma \tau }\left\langle {\boldsymbol {\eta }}(t-\tau ){\boldsymbol {\eta }}(t-\tau ')\right\rangle =\left({\boldsymbol {v}}_{0}^{2}-{\frac {dk_{\text{B}}T}{m}}\right)e^{-2\gamma t}+{\frac {dk_{\text{B}}T}{m}}} ;

note-se que quando o sistema se encontra em equilíbrio ( t ) {\displaystyle (t\rightarrow \infty )} a velocidade média da partícula é nula e

1 2 m v 2 ( t ) = d 2 k B T , {\displaystyle \left\langle {\frac {1}{2}}m{\boldsymbol {v}}^{2}(t)\right\rangle ={\frac {d}{2}}k_{\text{B}}T,}

este é o famoso resultado do teorema da equipartição (de energia) para a energia média de partículas num gás perfeito.

Circuito elétrico com ruido térmico

Outros sistemas podem ser tratados da mesma maneira tais como o ruido térmico numa resistência elétrica:

L d I ( t ) d t = R I ( t ) + v ( t ) . {\displaystyle L{\frac {dI(t)}{dt}}=-RI(t)+v(t).}

Considerações adicionais

Existe uma conexão direta entre uma equação de Langevin e a equação de Fokker-Planck correspondente, geralmente facilitando a resolução do sistema. Porém, é preciso notar que nem todas as equações de Langevin têm uma equação de Fokker-Planck correspondente (por exemplo, se o ruído não for gaussiano).

Soluções numéricas alternativas podem ser obtidas mediante simulação de Monte Carlo. Outras técnicas têm também sido utilizadas, que se baseiam na analogia entre física estatística e mecânica quântica (por exemplo, a equação de Fokker-Planck pode ser transformada na equação de Schrödinger com uma transformação de variáveis).

Bibliografia

  • The Langevin Equation, With Applications to Stochastic Problems in Physics, Chemistry and Electrical Engineering (Second Edition), by W T Coffey (Trinity College, Dublin, Ireland), Yu P Kalmykov (Université de Perpignan, France) & J T Waldron (Trinity College, Dublin, Ireland).
  • World Scientific Series in Contemporary Chemical Physics - Vol 14. (The First Edition is Vol 10).
  • Reif, F. Fundamentals of Statistical and Thermal Physics, McGraw Hill New York, 1965. See section 15.5 Langevin Equation.

Referências

  1. Langevin, P. (1908). «Sur la théorie du mouvement brownien [On the Theory of Brownian Motion]». C. R. Acad. Sci. Paris. 146: 530–533 ; reviewed by D. S. Lemons & A. Gythiel: Paul Langevin’s 1908 paper "On the Theory of Brownian Motion" [...], Am. J. Phys. 65, 1079 (1997), doi:10.1119/1.18725