Função afim

 Nota: Não confundir com Função linear, nem com Transformação linear.
Esquema explicativo de uma função afim.
Exemplo de uma função afim.

Uma função afim, também conhecida como função polinomial de grau 1 ou função polinomial de primeiro grau é uma função do tipo f ( x ) = a x + b , {\displaystyle f(x)=ax+b,} cujo gráfico é uma reta não perpendicular ao eixo O x . {\displaystyle Ox.} Tal função também pode ser entendida como uma transformação linear ( A x {\displaystyle Ax} ) seguida por uma translação ( + b {\displaystyle +b} ).

x A x + b {\displaystyle x\mapsto Ax+b}

no caso finito-dimensional cada função afim é dada por uma matriz A e por um vetor B, que possam ser escritos como a matriz A com uma coluna extra do B. Fisicamente, uma função afim é a que preserva:

  1. Colinearidade entre pontos, isto é, três pontos que se encontram em uma linha continuam a ser colineares após a transformação;
  2. relações das distâncias ao longo de uma linha, isto é, para os pontos colineares distintos p 1 , p 2 , p 3 {\displaystyle p_{1},p_{2},p_{3}} , | | p 2 p 1 | | / | | p 3 p 2 | | {\displaystyle ||p_{2}-p_{1}||/||p_{3}-p_{2}||}

Uma função afim é composta de um ou de diversos transformadores lineares. Diversas transformações lineares podem ser combinadas em uma única matriz, assim que a fórmula geral dada acima é ainda aplicável.

Em uma dimensão (ou seja, quando x e y são escalares), os termos A e b são chamados, respectivamente, de coeficiente angular e coeficiente linear.

 Definição formal

Uma função f : R R {\displaystyle f:\mathbb {R} \rightarrow \mathbb {R} } chama-se função afim quando existe dois números reais a {\displaystyle a} e b {\displaystyle b} tal que f ( x ) = a x + b {\displaystyle f(x)=ax+b} e a 0 , {\displaystyle a\neq 0,} para todo x R . {\displaystyle x\in \mathbb {R} .} [1][2]

Coeficientes[3]

Para facilitar a análise dessas funções, dizemos que o coeficiente "a" da função é o coeficiente angular ou declividade da reta. Esse coeficiente determina a tangente do ângulo da inclinação da reta que representa a função, no sentido anti-horário em relação do eixo das abcissas.

O coeficiente "b" determina o deslocamento da reta em relação à origem, por isso ele é conhecido como coeficiente linear da reta.

Esboço do gráfico da função f(x)=2x, um exemplo de função linear

Função linear

Ver artigo principal: Função linear

Uma função linear é um caso particular da função afim onde a 0 {\displaystyle a\neq 0} e b = 0 , {\displaystyle b=0,} sendo, portanto, expressa como:

f ( x ) = a x . {\displaystyle f(x)=ax.}

Veja na figura ao lado um exemplo de gráfico de função linear.

Um caso específico da função linear é a função identidade, onde a = 1. {\displaystyle a=1.} Logo a função identidade é expressa como:

f ( x ) = x . {\displaystyle f(x)=x.}

Observe na figura ao lado um exemplo de gráfico de função identidade.

Função linear e proporcionalidade

Ver artigo principal: Proporcionalidade
Esboço do gráfico da função f(x)=x, a função identidade

Uma das principais aplicações da função linear é a relação de proporção existente entre os elementos do domínio e da imagem, pois observamos que conforme variam os elementos do domínio, suas respectivas imagens variam na mesma proporção, sendo essa proporção o coeficiente angular da função, nesse caso chamado de taxa de variação.

Assim, seja a função linear f ( x ) = a x , {\displaystyle f(x)=ax,} vemos que o conjunto dos pontos que representa a reta dessa função são os pontos do tipo ( x , a x ) , {\displaystyle (x,ax),} onde a {\displaystyle a} é a razão entre y {\displaystyle y} e x . {\displaystyle x.} [4]

Essa relação será diretamente proporcional se a função for crescente e inversamente proporcional se a função for decrescente.

Crescimento ou decrescimento

Uma função afim pode ser crescente, decrescente, dependendo do valor do coeficiente angular. Uma função pode ainda ser constante, se a=0 e aí ela terá grau 0.

Crescente

Uma função afim é crescente quando seu coeficiente angular for positivo, ou seja, a > 0. {\displaystyle a>0.}

Esboço do gráfico da função f(x)=2x+1, um exemplo de função afim crescente

Demonstração: [5]

Por definição, dizemos que uma função f : A B {\displaystyle f:A\rightarrow {B}} definida por y = f ( x ) {\displaystyle y=f(x)} é crescente no conjunto A 1 A {\displaystyle A_{1}\subset {A}} se, para dois valores quaisquer x 1 {\displaystyle x_{1}} e x 2 {\displaystyle x_{2}} pertencentes a A 1 , {\displaystyle A_{1},} com x 1 < x 2 , {\displaystyle x_{1}<x_{2},} tivermos f ( x 1 ) < f ( x 2 ) . {\displaystyle f(x_{1})<f(x_{2}).}

Sintetizando: f {\displaystyle f} é crescente quanto:

( x 1 , x 2 ) ( x 1 < x 2 f ( x 1 ) < f ( x 2 ) ) {\displaystyle (\forall {x_{1}},x_{2})(x_{1}<x_{2}\Rightarrow {f(x_{1})<f(x_{2})})}

Podemos reescrever isso como:

( x 1 < x 2 ) ( x 1 x 2 f ( x 1 ) f ( x 2 ) x 1 x 2 > 0 ) {\displaystyle (\forall {x_{1}}<x_{2})(x_{1}\neq {x_{2}}\Rightarrow {\frac {f(x_{1})-f(x_{2})}{x_{1}-x_{2}}}>0)}

Então, dada a função afim f ( x ) = a x + b , {\displaystyle f(x)=ax+b,} dizemos que f ( x ) {\displaystyle f(x)} é crescente se, e somente se:

( a x 1 + b ) ( a x 2 + b ) x 1 x 2 > 0 , x 1 < x 2 {\displaystyle {\frac {(ax_{1}+b)-(ax_{2}+b)}{x_{1}-x_{2}}}>0,\forall {x_{1}}<{x_{2}}}

Assim, podemos reescrever:

a ( x 1 x 2 ) x 1 x 2 > 0 a > 0 . {\displaystyle {\frac {a(x_{1}-x_{2})}{x_{1}-x_{2}}}>0\Leftrightarrow {a>0}.}

Decrescente

Esboço do gráfico da função afim f(x)=-2x+1, um exemplo de função afim decrescente.

Uma função afim é decrescente quando seu coeficiente angular for negativo,ou seja, a < 0. {\displaystyle a<0.}

Demonstração:[5]

De forma similar à função crescente, uma função é decrescente se obedecer à seguinte restrição:

( x 1 , x 2 ) ( x 1 < x 2 f ( x 1 ) > f ( x 2 ) ) {\displaystyle (\forall {x_{1}},x_{2})(x_{1}<x_{2}\Rightarrow {f(x_{1})>f(x_{2})})}

Que é equivalente a dizer:

( x 1 < x 2 ) ( x 1 x 2 f ( x 1 ) f ( x 2 ) x 1 x 2 < 0 ) {\displaystyle (\forall {x_{1}}<x_{2})(x_{1}\neq {x_{2}}\Rightarrow {\frac {f(x_{1})-f(x_{2})}{x_{1}-x_{2}}}<0)}

Então, dada a função afim f ( x ) = a x + b , {\displaystyle f(x)=ax+b,} dizemos que f ( x ) {\displaystyle f(x)} é decrescente quando:

( a x 1 + b ) ( a x 2 + b ) x 1 x 2 < 0 , x 1 < x 2 {\displaystyle {\frac {(ax_{1}+b)-(ax_{2}+b)}{x_{1}-x_{2}}}<0,\forall {x_{1}}<{x_{2}}}

Reescrevendo isso, temos:

a ( x 1 x 2 ) x 1 x 2 < 0 a < 0 . {\displaystyle {\frac {a(x_{1}-x_{2})}{x_{1}-x_{2}}}<0\Leftrightarrow {a<0}.}

Constante

Ver artigo principal: Função constante

Uma função é constante (neste caso dizemos que ela não é afim) quando seu coeficiente angular for nulo, ou seja a = 0. {\displaystyle a=0.} Nesse caso a equação que define a função é dada por f ( x ) = b {\displaystyle f(x)=b} e seu gráfico é uma reta paralela ao eixo O x {\displaystyle Ox} .

Esboço do gráfico da função f(x)=2, um exemplo de função constante

Zero

O zero de uma função afim (ou raízes da função) é o valor de x {\displaystyle x} para o qual a função é igual a zero. Geometricamente o zero de uma função afim é o ponto de corte no eixo das abcissas.

Para definir este ponto basta resolver a equação a x + b = 0 : {\displaystyle ax+b=0:}

Pontos de corte com os eixos em uma função afim

a x + b = 0 x = b a . {\displaystyle ax+b=0\Rightarrow {x=-{\frac {b}{a}}}.}

Logo o ponto de corte no eixo das abcissas é ( b a , 0 ) . {\displaystyle \left(-{\frac {b}{a}},0\right).}

Toda e qualquer função afim também corta o eixo das ordenadas (eixo o y {\displaystyle oy} ). Para definir este ponto de corte basta calcular f ( 0 ) : {\displaystyle f(0):}

f ( 0 ) = a .0 + b = b . {\displaystyle f(0)=a.0+b=b.}

Logo o ponto de corte no eixo y é ( 0 , b ) . {\displaystyle (0,b).}

Aplicações

As funções afins possuem diversas aplicações, em situações que apresentam crescimento ou decrescimento linear.

 Relação com a progressão aritmética

Ver artigo principal: Progressão aritmética

Uma progressão aritmética é uma sequência numérica em que cada termo, a partir do segundo, é igual à soma do termo anterior com uma constante.[6]

Logo, por ter essa característica, vemos que o crescimento de uma P.A é linear e pode, portanto, ser representado por uma função afim.

Para chegar até a função afim de uma P.A. partiremos da fórmula do termo geral, que é: a n = a 1 + ( n 1 ) . r . {\displaystyle a_{n}=a_{1}+(n-1).r.}

Como buscamos conhecer um termo em função da sua posição em uma P.A., podemos reescrever a fórmula como:

a ( n ) = a 1 + ( n 1 ) . r {\displaystyle a(n)=a_{1}+(n-1).r} [7]

Temos, aplicando a propriedade distributiva e organizando os termos:

a ( n ) = r . n + ( a 1 r ) , {\displaystyle a(n)=r.n+(a_{1}-r),}

Esboço do gráfico da função a ( n ) = 3 n 2 , n N {\displaystyle a(n)=3n-2,n\in \mathbb {N^{*}} }

onde:

a ( n ) {\displaystyle a(n)} é a variável dependente; n {\displaystyle n} é a variável independente; r {\displaystyle r} é o coeficiente angular; ( a 1 r ) {\displaystyle (a_{1}-r)} é o coeficiente linear.

O domínio dessa função é o conjunto dos números naturais não nulos e a imagem é o conjunto dos números inteiros.

Exemplo:

Seja a progressão aritmética infinita ( 1 , 4 , 7 , 10 , 13 , 16 , 19 , . . . ) , {\displaystyle (1,4,7,10,13,16,19,...),} vamos verificar se seus termos são definidos pela fórmula a ( n ) = r . n + ( a 1 r ) . {\displaystyle a(n)=r.n+(a_{1}-r).}

Temos que r = 3 {\displaystyle r=3} e a 1 = 1. {\displaystyle a_{1}=1.}

Logo, a lei da função a ( n ) {\displaystyle a(n)} é:

a ( n ) = 3. n + ( 1 3 ) a ( n ) = 3 n 2 {\displaystyle a(n)=3.n+(1-3)\rightarrow {a(n)=3n-2}}

Observe ao lado o gráfico da função a ( n ) . {\displaystyle a(n).}   

 Relação com o movimento retilíneo uniforme

Ver artigo principal: Movimento retilíneo uniforme

Situações que envolvem movimento em linha reta e com velocidade fixa podem ser estudadas utilizando funções afins. Para isso é preciso analisar a posição do objeto que se movimenta em função do tempo.

A física define a velocidade de um objeto como a razão entre a variação da distância pela variação do tempo, como observamos na fórmula abaixo:

v = Δ s Δ t = s f s i t f t i {\displaystyle v={\frac {\Delta s}{\Delta t}}={\frac {s_{f}-s_{i}}{t_{f}-t_{i}}}} ,[8]

onde:

s f {\displaystyle s_{f}} é a distância final; s i {\displaystyle s_{i}} é a distância inicial; t f {\displaystyle t_{f}} a distância final e s i {\displaystyle s_{i}} a distância inicial.

Podemos simplificar a expressão, pois na maioria dos casos temos como ponto de partida um tempo inicial nulo, t i = 0. {\displaystyle t_{i}=0.}

Logo é possível modificar a expressão utilizando algebrismos para encontrar uma função afim de posição em função do tempo.

v = s f s i t f 0 v . t f = s f s i . {\displaystyle v={\frac {s_{f}-s_{i}}{t_{f}-0}}\longrightarrow {v.{t_{f}}}=s_{f}-s_{i}.}

Podemos reescrever de modo a obter s f : {\displaystyle s_{f}:}

s f = v . t f + s i {\displaystyle s_{f}=v.{t_{f}}+s_{i}}

Por fim basta renomear os termos para melhorar a lei da função. Assim dissemos que s f = s ( t ) , {\displaystyle s_{f}=s(t),} t f = t {\displaystyle t_{f}=t} e s i = s . {\displaystyle s_{i}=s.}

Logo a lei da função posição é:

s ( t ) = v . t + s {\displaystyle s(t)=v.t+s} ,[9]

onde:

  • s ( t ) {\displaystyle s(t)} é a posição após o tempo t ; {\displaystyle t;}        
  • v {\displaystyle v} é a velocidade e o coeficiente angular da função;        
  • t {\displaystyle t} é o tempo que dura o deslocamento;        
  • s {\displaystyle s} é a posição inicial e também o coeficiente linear da função.      

Veja também

Referências

  1. «Só Matemática, Função de Primeiro Grau». www.somatematica.com.br. Consultado em 29 de outubro de 2015 
  2. Gelson., Iezzi, (2009). Fundamentos de matemática elementar, 1 : conjuntos, funções 7. ed. São Paulo (SP): Atual. ISBN 8535704558. OCLC 817124667 
  3. Dante, Luiz Roberto (2005). Matemática, volume único. São Paulo: Ática. ISBN 9788508098019 
  4. [1]
  5. a b Iezzi;, Gelson;; Murakami, Calor (2004). Fundamentos de Matemática Elementar 1, conjuntos, funções. [S.l.: s.n.] ISBN 978-85-357-0455-6 
  6. Iezzi, Gelson; Hazzan, Samuel (2004). Fundamentos de Matemática Elementar 4. Sequências, matrizes, determinantes, sistemas. São Paulo: [s.n.] ISBN 9788535704587 
  7. «Progressão Aritmética». InfoEscola. plus.google.com/+infoescola/. Consultado em 12 de novembro de 2015 
  8. «Movimento Retilíneo Uniforme (MRU) - Física». InfoEscola. plus.google.com/+infoescola/. Consultado em 12 de novembro de 2015 
  9. Dante, Luiz Roberto (2010). Matemática: Contexto e aplicações. [S.l.: s.n.] ISBN 9788508113002 

Bibliografia

  • Iezzi, Gelson; Murakami, Carlos. Fundamentos de Matemática Elementar,1: conjuntos, funções. 8. ed. São Paulo: Atual, 2004.